Quando vier a catástrofe, seja por um
total colapso econômico ou guerra nuclear, os sobreviventes das
cidades dispersar-se-ão tal como baratas ao acender-se uma luz de
cozinha. Milhões que não foram mortos pela guerra, pelos incêndios,
pelos tumultos e confrontos urbanos serão impelidos para as zonas
rurais.
As vias que levarão para fora das
cidades condenadas estarão irremediávelmente entupidas de carros e
destroços, semelhante a qualquer manhã de nevoeiro nas auto
estradas de San Francisco.
Como muitos vermes da cidade estarão
presos no meio da “festa”, chusmas dessa escumalha farão dessas
vias as artérias principais das metrópoles para as cidades
pequenas.
Esses serão os “sortudos”. Os
previdentes terão deixado as cidades antes do caos se instalar. Mas
a sorte não durará muito, com poucos ou nenhum equipamento, sem
combustível extra, provávelmente uma ou duas armas, uma caixa de
alimentos enlatados e algumas garrafas de bebida que saquearam; mas
sem nenhum equipamento de sobrevivência significativo.
Até alcançarem a cidade mais
próxima, será cobra engolindo cobra, cada um por si e que venha o
diabo e escolha. Se eles pararem por um carro capotado à frente,
será apenas para despojar os passageiros de todos os seus itens
úteis e para sugar para fora todo o combustível que ainda houver no
carro .
Finalmente, dezenas de veículos
individuais chegarão à cidade mais próxima. Na maioria dos casos,
os habitantes terão montado barricadas nas estradas. Eles não
poderiam acomodar essas hordas de indivíduos imprevidentes das
cidades, e assim será, muitas vezes, bastará apenas bloquear a sua
passagem e fazê-los recuar pela força das armas.
Este método está errado e eu
explicarei o porquê no meu próximo editorial, “Roadblock”
(Barricada). Mas por agora, eu quero dizer o que irá acontecer como
resultado de um total embarricamento, o que será comum ao redor da
maioria das cidades.
Pode-se imaginar fácilmente tais
bloqueios, feitos de carros enfileirados de um lado ao outro da estrada, repletos de armas
empunhadas por determinados cidadãos. “Retorne ou morra”,
“Yankee go home” seriam o gênero de avisos afixados para que os
grupos de refugiados saibam que não são bem-vindos.
Apesar de, até então, estes
refugiados terem sido indivíduos, eles irão agora organizar-se em
bandos. Sendo imprevidentes e não tendo nenhuma chance por eles
próprios, líderes de ocasião irão surgir perante os bloqueios e
oferecer à multidão a sua proteção e orientação.
Em tempos de catástrofe e confusão,
o indivíduo médio é impelido a seguir qualquer um que afirme ter as
respostas. Qualquer um com qualquer tipo de autoridade prévia, ou
que pense por aqueles que são incapazes de pensar, encontrará um
exército pronto para ir para onde quer que ele o guie, e fazer tudo
aquilo o que ele ordenar.
“O Martelo de Lúcifer” de Larry
Niven e Jerry Pournelle, descreve dois líderes semelhantes e muitos
dos seus sub-líderes, todos relativamente sem qualificações em
tempos de Ordem. Mas quando o cometa aproxima-se da Terra, as mais
indesejáveis lideranças foram aceites, e assim como Jim Jones da
Guiana, trouxeram selvajaria e morte a todos os seus seguidores.
Os dois líderes principais no
“Martelo de Lúcifer” eram um negro, sargento do exército e um
fanático religioso branco. Era um grupo interracial, composto em sua
maioria por um bando de soldados, activistas negros e brancos
falhados encontrados no percurso da marcha.
Os alimentos tornaram-se escassos e
então iniciou-se o canibalismo, não apenas aceitável, mas
obrigatório. Comer a carne humana era parte da iniciação do bando.
Se alguém se negasse a comer, era ele próprio comido.
Isto foi inicialmente ordenado pelo
sargento, como uma alternativa imediata para a fome. Posteriormente,
isto foi tranformado num mandamento pela co-liderança religiosa,
como um sinal de fé na ideia de que eles eram escolhidos por Deus.
Apenas os escolhidos seriam abençoados com a vitória sobre os
tecnólogos sobreviventes que trouxeram a Ira de Deus sobre o mundo
pecaminoso. Deus iria perdoar o seu canibalismo e outros horrores
cometidos quando trouxesse o Seu Reino à realidade.
Seus delírios degenerados são
realmente veiculados na TV por Billy Graham, Rex Humbard , Pat
Robertson e Oral Roberts . O tipo de pessoas que engolem tudo o que
estes pervertidos dizem, acabarão por engolir carne humana,
ávidamente. Então, tal como enxames de gafanhotos, estes fanáticos
canibais irão assolar e destruir a unica esperança para a
civilização futura.
Certamente haverá este tipo de
líderes, como o Sargento Hooker e o reverendo Henry Armitage. Haverá
também bandos que criarão cultos dentro ou fora das cidades, e
esses cultos irão se mobilizar primeiro e farão o que quiserem aos
não-iniciados ou aqueles que não se converterem.
Mas os bandos mais comuns serão os
grupos repelidos pelas barricadas. Estes, tal como o resto, formarão
Caravanas de Assassinos, armazenando os seus recursos. O líder, seja
um político, soldado ou auto intitulado Messias, terá prontamente
um bando de assassinos lobotomizados pelos media para atender as suas
exigências.
Seu primeiro acto será assassinar
todos os não-cooperantes e qualquer um que não o veja como uma
liderança legítima. Ao princípio, o mais forte será seguido. Se
esse forte não mantiver a maioria ao seu lado, a sua posição e ou
a sua vida estará em perigo.
Lógicamente, se o mais forte
realmente provar incompetência, outro poderá matá-lo sem temer a
maioria. O mais forte, deverá eleger um ou dois representantes,
tanto para manter os descontentes na linha, quanto para impedir que
um dos representantes tome o seu lugar.
Então com a liderança estabelecida,
os descontentes mortos e a sua propriedade confiscada pelo grupo, a
Caravana de Assassinos está formada.
Ela tem seus líderes, quer militares,
carismáticos ou ambos. Tem os seus colectores e saqueadores armados
e a devoção e admiração de mulheres e crianças sob a sua
dependência.
Mas o que falta é a direcção, um
lugar para ir, um propósito. Tudo aquilo que tem como organismo
social formado por liberalóides inaptos, trabalhadores urbanos e
parasitas da segurança social é a vontade colectiva de sobreviver.
Com recursos armazenados e os
relutantes mortos ou expulsos, a Caravana de Assassinos toma forma.
Então ela retornará à estrada a caminho de qualquer lado promissor
da mesma, que dê acesso à uma rota para a cidade restrita. A
estrada que escolheram poderá passar pela sua casa. Com pouca comida
de sobra e nada a perder, eles certamente poderão se virar contra
si. Uma Caravana de Assassinos poderá contar com um número entra 20
a 100 indivíduos ou mais.
Independentemente de quão muito ou
pouco tenhas armazenado, a Caravana de Assassinos irá despojá-lo de
tudo. Nem ao menos sentirão a necessidade de poupar a sua vida.
Depois de confiscarem seus veículos, armas, suprimento total de
comida, eles dificilmente esperarão que sintas qualquer coisa por
eles, senão ódio. Render-se a eles não seria garantia de que eles
poupariam a vida a si e a sua família.
Em primeiro lugar, eles fariam
acampamento no seu espaço até não restar mais nada.
Não faz sentido acreditar que eles
estariam alojados na sua propriedade e partilhariam-na consigo e
ajudariam a cultivá-la. Eles não seriam agricultores, e de qualquer
maneira e desde que tivesses apenas uma ou duas culturas de
rendimento e uma horta de subsistência, tal multidão não teria
razões para tomar as suas participações numa base de longo termo.
Não, eles acampariam na sua
propriedade durante um dia ou dois e tomariam tudo aquilo o que
querem. Depois de pouco tempo, não haveria o suficiente para
alimentar o bando e eles iriam a caminho da próxima quinta,
provavelmente deixando-o morto.
Esse é o tipo de gente contra a qual
os campónios devem se preparar. Você deve criar uma rede de
comunicações com os seus vizinhos, com walkie talkies. As chances
são; a Caravana de Assassinos atacará apenas uma propriedade de
cada vez ao longo da sua rota. Isto daria a si e aos seus vizinhos a
chance de agrupar na primeira quinta e então encontrá-los em força.
Lutar contra Caravanas de Assassinos
será diferente de defender-se contra refugiados solitários e suas
famílias. No caso dos solitários, você pode ser generoso, dar-lhes
comida suficiente para que eles cheguem à próxima área, e com uma
moderada exibição de força, salvar-se de um ataque total.
Mas com as caravanas de assassinos,
deves mostrar força letal uma vez e mantê-la até que os
sobreviventes sejam desencorajados a continuar.
Primeiro, eles não terão
alternativas para atacá-lo, já que irão deparar com escassez
crónica que irá deter a sua caravana sem reabastecimento. Segundo:
O seu moral irá depender de vítórias. Com o moral dos membros em
baixo, os líderes apenas irão querer passar longe do “veneno”.
Independentemente dos numeros numa
caravana, há uma pequena probabilidade dela ser composta por
ex-militares profissionalmente treinados. Se assim for, se puderes
impedi-los e infligir um número suficiente de baixas, eles irão
debandar, mesmo que tenham de fazê-lo a pé.
A concepção comum de uma Caravana de
Assassinos é a de uma unidade bem organizada, bem equipada, bem
armada e disciplinada. Isto significa que tais caravanas varreriam
tudo o que estivesse no caminho. O “Martelo de Lúcifer” pinta a
imagem de uma horda praticamente esmagadora.
Se tais grupos puderem tomar alguma
quintas e permanecer nelas, eles poderão iniciar a sua própria
comunidade de sobrevivência. Mas a Caravana de Assassinos não
possui pessoal de qualidade para tornar-se uma bem-sucedida
comunidade sobrevivencialista. Eles estariam vulneráveis, ainda que
contassem com a desunião e incompetência dos agricultores ao longo
da sua rota...