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Jazigo de um cavaleiro templário, Igreja do Templo, Londres.
Fundo: a mesma igreja. |
O estudo e a produção de alimentos saudáveis é uma área na qual a ciência vem aplicando seus melhores recursos e conhecimentos.
Diversas especialidades da Medicina também se aplicam na análise das dietas mais apropriadas para a saúde dos variados tipos humanos, sadios e doentes, crianças, jovens e velhos, moradores da cidade, desportistas, e até astronautas.
Na Igreja Católica, as Ordens religiosas têm – ou tinham – normas especiais para a alimentação de seus membros em função de suas respectivas vocações e missões.
Encontramos desde Ordens penitenciais contemplativas de uma austeridade e penitências admiráveis e impressionantes, até Ordens dedicadas às actividades apostólicas, inclusive manuais, que têm um regime muito mais farto.
Os adversários da Igreja muitas vezes tentaram explorar os diversos graus de rigor das Ordens religiosas para debochar delas como exemplos de costumes atrasados, primitivos e em desacordo com a natureza humana, sua saúde e bem-estar.
Outras vezes, os mesmos difamadores espalham que os monges viviam uma vida desregrada em meio a comilanças e bebedeiras indescritíveis que lhes encurtavam a vida.
Agora, uma equipe internacional de professores de Medicina na revista científica ‘Digestive and Liver Disease’ apresentou um trabalho científico inesperado, cujo título diz tudo: “A dieta dos cavaleiros templários foi o segredo de sua longevidade?”
Os Templários – ordem extinta há séculos – pertenciam a uma categoria especial de Ordens religiosas: eram monges cavaleiros, portanto guerreiros, que se dedicavam a proteger os peregrinos na Terra Santa.
Nos tempos de paz mantinham hospedagens e hospitais imensos e modelares, gratuitos para todos. Também vigiavam estradas e locais perigosos, com tarefas análogas à das polícias militares e de fronteira modernas.
Em tempos de guerra, integravam as tropas de elite cristãs que combatiam contra o Islão e empreendiam campanhas em locais inóspitos ou insalubres, não raras vezes padecendo fome ou sede, constrangidos a comer miseravelmente ou beber água suspeita.
Essa vida peculiar os levava a seguir os conselhos de São Bernardo, de se manterem fortes e saudáveis para o momento de enfrentar os inimigos da Cruz.
Os autores do trabalho sobre a dieta dos frades templários são o Prof. Francesco Franceschi, docente do Instituto de Medicina Interna da Universidade Católica de Roma; o Prof. Roberto Bernabei, do Departamento de Gerontologia e Geriatria da Universidade Católica do Sagrado Coração de Roma; o Prof. Peter Malfertheiner, do Departamento de Gastrenterologia, Hepatologia e Doenças Infecciosas da Universidade Otto-von-Guericke de Magdeburg, Alemanha; e o Prof. Giovanni Gasbarrini, da Fundação de Pesquisas na Medicina ONLUS, de Bolonha, Itália.
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Uma austeridade prudente mas sábia no comer
lhes proporcionava um vigor excepcional.
Jazigo de um cavaleiro Templário, Igreja do Templo, Londres |
O facto é que os Templários, com uma vida guerreira e frequentes combates, tinham uma expectativa de vida de 30 anos acima da média de seus contemporâneos, cujas condições de vida eram muitas vezes muito mais folgadas e aconchegadas..
Os cientistas identificaram a explicação desse paradoxo no regime alimentar dos monges guerreiros.
Debruçando-se então nos documentos da era medieval em busca de uma explicação científica, chegaram à ideia de que a dieta ajudou esses monges-soldados a viver muito mais tempo que a média da época.
Naquela época, a expectativa de vida oscilava entre 25 e 40 anos. Mas, segundo as fontes históricas, muitos Templários não só viveram até 70 anos, mas eram também mais saudáveis e fortes.
Tudo isso contribuía a circundar a Ordem dos Cavaleiros do Templo com uma áurea de admiração e reverência. Nos afrescos e nas estátuas eles eram representados como homens altos e robustos, imponentes e cheios de vigor. E em geral eram assim.
Para isso não tinham nenhuma fórmula mágica, nem elixir fantasioso: sua excepcional longevidade e sua óptima saúde eram geralmente atribuídas a um dom divino, mas também se deviam muito provavelmente a sua Regra monástica, também inspirada pela graça.
O regime alimentar dos monges-guerreiros não era nada pobre, mas muito variado e, sobretudo, muito sadio quando analisado à luz do que ensina a dietética moderna.
Comiam pouca carne: não mais que duas ou três vezes por semana. Em seu lugar, muitos legumes e peixe, queijo, azeite e frutas frescas. Além do mais, deviam respeitar regras de higiene para ir à mesa, dispor o refeitório e os pratos, e dar grande atenção à qualidade do que comiam.
Os Templários, como os monges em geral, comiam com muita sabedoria e por isso se alimentavam melhor. As categorias sociais que não participavam dessa sabedoria podiam pecar por excesso ou carência num sentido ou noutro. Mas podiam bater sempre na porta dos conventos e serem acolhidos com generosidade na mesa dos religiosos.
Os monges hospitalários de São João de Jerusalém, mais conhecidos como Ordem de Malta, ainda hoje existentes, não podiam tomar refeições até terem garantido as dos doentes e romeiros dos quais cuidavam. Pela Regra, deviam tratá-los como se fossem o próprio Jesus Cristo.
Em todas as classes a obesidade era considerada símbolo de riqueza e bem-estar. As categorias sociais mais ricas em geral exageravam o consumo de carnes e gorduras. Por isso, observa o estudo, na nobreza eram frequentes a gota, a obesidade, a diabete e as doenças provocadas por altos níveis de colesterol e triglicerídeos.
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Placa de bronze do século XII com três cavaleiros Templários das origens da Ordem.
Burrell Collection, Glasgow, Escócia. |
Mas os Templários, que provinham em geral de famílias nobres, em virtude de uma dieta nutritiva, sã e equilibrada, gozavam de uma saúde decididamente melhor.
Assim diz o Dr. Franceschi no referido estudo: “A dieta dos Templários é muito moderna e prenuncia a dieta mediterrânea. Combatia todas essas doenças [acima mencionadas]: comiam pouca carne (duas vezes por semana), muitos legumes (três pratos por semana) que hoje se consume pouco, mas que incluem poderosos probióticos [“organismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefício à saúde do hospedeiro”]; o peixe era muito frequente e na água acrescentavam suco de laranja para obter um efeito antibacteriano”.
Estavam proibidos de caçar e se dedicavam preferentemente à criação de peixes. Consumiam muitos frutos do mar e os especialistas consideram que agindo dessa maneira “se beneficiavam do efeito positivo dos ácidos gordos ómega-3 sobre os níveis hemáticos de colesterol e triglicerídeos, além do efeito antioxidante e antidepressivo dos moluscos”.
Mas não era só isso: os Cavaleiros Templários, obedecendo às disposições de sua Regra, lavavam as mãos antes das refeições, mantinham o refeitório sempre bem arrumado e as toalhas muito limpas.
Aqueles que executavam tarefas manuais de tipo camponês, por exemplo, não podiam servir os alimentos na mesa. Trata-se obviamente de regras de boa conduta que favorecem a higiene na mesa e previnem a difusão de infecções.
Nos documentos históricos transparece que também seu modo de beber era muito saudável. Bebiam em quantidades moderadas um vinho de palmeira de baixa graduação alcoólica, típico da Terra Santa, que, segundo o estudo, “tem uma propriedade antiplaquetária inteiramente semelhante à cardioaspirina”.
Acrescentavam polpa de Aloe vera, uma planta dotada de efeitos antissépticos e fungicidas muito útil nos países de clima desértico cálido. Bebiam a água misturada com suco de laranja para desinfetá-la e aproveitar o necessário aporte de vitamina C.
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São Bernardo de Claraval escreveu a Regra dos cavaleiros templários.
Nela, definiu o regime alimentar que eles deviam cumprir religiosamente. |
Os Cavaleiros Templários seguiam a Regra De laude novae militiae, de São Bernardo de Claraval. Entre as cláusulas, várias são relativas à nutrição, aos alimentos e às formas de consumi-los:
VII – Sobre o refeitório do mosteiro: “Desejamos que façais vossas refeições em comum, num mesmo local, a saber, o refeitório”.
IX – Sobre a carne: “Na semana, exceptuados o Natal, a Páscoa ou a festividade de Nossa Senhora e de Todos os Santos, bastar-vos-á a carne em três ocasiões, porque comer habitualmente carne favorece um indesejável desgaste de vossos corpos. Porém, se um dia de jejum cair num dia de abstinência, guardareis uma quantidade abundante para o dia seguinte. Nos domingos, porém, parece-nos correto e viável que todos os cavaleiros professos e os capelães recebam dois pratos de carne para honrar a Santa Ressurreição”.
X – Como devem comer os cavaleiros: “Os irmãos em geral devem comer em pares, a fim de que um possa zelar pelo outro com cuidado para evitar os excessos e a falta de moderação na bebida”.
XI – Como nos demais dias, três pratos de vegetais serão suficientes: “Nos outros dias, quer dizer, segunda-feira, quarta-feira e sábado, acreditamos que dois ou três pratos de vegetais ou outros alimentos como sopas serão suficientes para todos”.
XII – O que pode ser comido nas Sextas-feiras: “Recomendamos a abstinência durante a Quaresma em honra da Paixão, a ser feita por toda a congregação exceptuados os débeis e doentes, e que assim seja até a Páscoa”.
XIII – Ação de graças após cada refeição: “Frações de pão devem ser distribuídas com amor fraterno aos servidores e aos necessitados”.
XV – A colação será por decisão do Mestre: “Quando o sol desce para o Ocidente, ao som de um sinal, como é costume na região, devemos rezar Completas, mas podemos tomar uma colação antes de ir para o acto. Esta colação fica a juízo e decisão do Mestre, que decidirá se vai ser tomada com água ou, se julgar com compaixão, com uma quantidade razoável de vinho temperado. Verdadeiramente a quantidade não deverá ser muito grande; deve ser moderada, uma vez que o vinho faz com que até os sábios esqueçam a sua religião”.
LXII – O alimento deve ser servido por igual: “Para todos os irmãos professos o alimento deve ser distribuído por igual, em função dos recursos do local”.
Como conclusão, os professores de medicina acreditam que a dieta e o estilo de vida podem ser a explicação da extraordinária longevidade dos Cavaleiros Templários.
E, se isto for verdadeiro, o ditado “aprender do passado” nunca se aplicou com tanta propriedade.
Fonte: Luis Dufaur