domingo, 27 de abril de 2014

Um relato pessoal de uma situação de sobrevivência (SHTF)


Selco é um bósnio que viveu em primeira mão o colapso da Bósnia em 1992. Passou um ano na sua cidade de 50.000 habitantes sem electricidade, combustível, água corrente e sem qualquer tipo de distribuição de alimentos e outros produtos.
Não havia qualquer força policial ou exército organizado.
 
A população organizou-se em pequenas comunidades, geralmente por ruas, sendo que, em cada comunidade, um pequeno grupo de vigilantes armados patrulhava a sua zona à noite de forma a se defenderem de inimigos e gangues.
 
O dinheiro deixou de ter qualquer utilidade. O ouro tinha algum valor, mas não muito. As pessoas passaram a trocar bens entre si dentro da mesma comunidade (velas, isqueiros, antibióticos, combustível, cigarros, pilhas, munições e alimentos eram os itens mais procurados).
Em alguns locais estabeleceram-se mercados mais organizados, mas estes só operavam de noite pois, de dia, a zona era vigiada por snipers.

Praticamente ninguém se deslocava de carro. A maior parte das estradas encontravam-se bloqueadas e o preço do combustível era incomportável.
Selco, quando saía, fazia-o sempre de noite num grupo pequeno de 2 a 3 pessoas, armados, velozes, pelas sombras e ruínas.

Selco considera que um grupo nunca deve aceitar estranhos, unicamente membros da família e amigos bastante próximos, nos quais se tenha confiança absoluta. Os membros do grupo devem possuir conhecimentos variados.
Estar sozinho será fatal, independentemente de quão bem essa pessoa esteja preparada.

Em público, é fundamental não dar nas vistas, comportar-se como os outros, com um ar de desespero.  O local de habitação deve também ser o mais desinteressante possível.
 
É importante possuir algum tipo de conhecimento prático, como consertar ou construir objectos relativos a necessidades básicas (por exemplo, encher isqueiros com gás). Este tipo de conhecimentos permitirá prestar serviços a outros com os quais se poderá obter bens necessários. Os objectos estão sempre sujeitos a degradação ou avaria, ao contrário do conhecimento.

É conveniente ter provisões (alimentos, higiene, energia) para cerca de 6 meses, várias armas de fogo com grande número de munições (o mais importante quanto a Selco), um quintal de dimensão considerável e conhecimentos de agricultura, pequenos objectos para fins de troca como facas e isqueiros (bebidas alcoólicas também são bastante procuradas e, para além disso, servem como desinfectante). Os sacos de lixo e a fita adesiva têm bastantes usos.

Como não havia electricidade, Selco arranjou um fogão a lenha com qual o seu grupo cozinhava e se aquecia. A madeira tornou-se dos materiais mais procurados, e até mobília, portas e caixilhos de janelas serviam como fonte de aquecimento.

Quanto á higiene, é aconselhável possuir desinfectantes (lixívia, sabonetes), luvas e máscaras descartáveis, medicamentos (especialmente antibióticos), conhecimentos e material de primeiros-socorros, bastantes pratos e copos de plástico.

No campo, as condições de vida não eram tão más como na cidade, mas para quem se encontrava na cidade, como Selco, não era possível aceder ao campo.

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