A água é o elemento mais essencial para a sobrevivência. Se o soldado num exercício de sobrevivência – ou em combate – não consegue ingerir mais água do que a que perde através da transpiração, digestão e respiração, a sua saúde deteriora-se rapidamente. Mesmo que ficasse sentado e quieto durante todo o dia, sem fazer qualquer forma de esforço, ainda assim o seu corpo perderia cerca de um litro de líquido, e essa taxa sobe para dois ou três litros durante os níveis normais de esforço. Por exemplo, imagine um soldado num deserto a marchar quilómetros através do calor e com cargas pesadas e começa a ter uma ideia de quão rapidamente, por mais forte que seja, se desidrata. Adicione alguma forma de doença que exija líquidos – como a diarreia ou os vómitos – e o resultado será grave desidratação, que pode ser mortal.
Da mesma forma, um dos primeiros princípios que aprenderá é como conservar a água que já tem dentro do seu corpo. Alguns conselhos são bastante óbvios.
Descanse o máximo possível para reduzir a perda de fluidos através da transpiração. Saia do sol tanto quanto possível e tente caminhar de noite. Mantenha-se afastado de superfícies quentes como as rochas expostas ao sol. Se tiver água, racione-a para os próximos dias e seja muito disciplinado nesse aspecto.
No entanto, alguns factos sobre a conservação da água são menos conhecidos. Deve falar o menos possível, porque a respiração envolvida aumenta a perda de líquidos quando expira. Se a sua água é muito pouca, não coma. A digestão requer uma grande quantidade de fluido para completar o seu processo, especialmente os alimentos gordos. Podia literalmente consumir-se até à desidratação. Apenas coma se a sua ração de água o permitir – um guia razoável é o facto de ter água suficiente para acompanhar bem a sua refeição e para beber durante o resto do dia. Finalmente, não fume nem beba álcool, porque ambos aceleram a perda de fluidos (um soldado SAS provavelmente não leva álcool nas operações, mas fumar é mais comum).
Em países de clima temperado, como o Reino Unido, encontrar provisões naturais de água raramente é difícil. Além das fontes feitas pelo homem (uma missão discreta para encontrar a torneira da água de uma quinta pode ser útil), as zonas temperadas normalmente têm riachos, rios e chuva. No entanto, nem sempre é este o caso e um recruta é treinado para encontrar e extrair água mesmo nas condições mais áridas.
Se encontrar uma nascente, deve ter uma extrema precaução mesmo quando a sede o assola. Muitas nascentes podem estar envenenadas por toxinas naturais ou artificiais. Os sinais de envenenamento incluem: um cheiro horrível na água e bolhas na superfície; animais mortos e nenhuma planta viva perto da fonte de água; lagos que não possuem entradas nem saídas de água fresca. Qualquer que seja a aparência da água deve purificá-la antes de a beber. Idealmente, isto far-se-á com comprimidos de purificação, que devem ser uma parte essencial do seu equipamento de sobrevivência. No entanto, se não os tiver, deve filtrar a água por um pano antes de a ferver durante 10 minutos para remover a maior parte das impurezas.
Claro que, por vezes, não há tempo para toda esta preparação. Alguns goles experimentais podem ser bebidos de um rio que corra livremente por cima de uma pedra calcária ou leito de seixos, mas uma fonte ainda melhor e já pronta é a água da chuva. Recolha-a sempre que chova e guarde-a, se possível. Ensopar um pedaço de pano e depois torcê-lo para um recipiente é um dos melhores métodos. Como alternativa, procure reservatórios naturais como as cascas de árvores ou plantas em forma de taça que possam conter água da chuva. As próprias plantas – por exemplo, o bambu, o cacto e a palmeira – podem também ser armazenadoras de água. O soldado deve estudar os tipos de planta que crescem nesta área antes de chegar.
Por vezes o soldado não encontra nascentes acessíveis. Isto deixa-lhe três opções: extrair água do subsolo, extraí-la por condensação ou encontrar plantas que tenham as suas próprias reservas de água. Encontrar água no subsolo não é fácil, e é necessário ter o olho treinado para reconhecer os sinais da sua presença. Os melhores locais para procurar são rios secos ou leitos de riachos – embora a água à superfície já não exista, pode ficar no subsolo durante longos períodos de tempo. Escolha o ponto mais baixo de uma curva no leito de um ribeiro ou rio e escave – após alguns centímetros verificará que a água começa a encher o buraco.
Os bosquímanos no deserto de Kalahari, em África, utilizam uma técnica de escavação até que o solo fique húmido, e depois inserem um junco no solo e sugam-no durante cerca de 10 minutos. Eventualmente descobrem que a água é sugada da terra e sobe pelo junco ou palha.
A condensação é uma forma muito mais complexa de obter água, mas pode produzir resultados que salvam vidas. Existem dois métodos básicos para esta forma de recolher água: a destilação solar e o saco de transpiração. Ambos requerem o uso de uma ou duas folhas de politeno (como as de um saco de compras muito resistente). A destilação solar possui uma aplicação valiosa em regiões desérticas, enquanto o método da transpiração requer que encontre vegetação verde e fresca.
Para fazer uma destilação solar, primeiro escave um buraco com cerca de 90 cm de largura por 45 cm de profundidade. Coloque alguma forma de receptáculo no fundo do buraco para recolher a água, depois coloque uma folha de plástico por cima do buraco, segurando-a pelas extremidades com pedras ou areia para a manter no lugar. A folha de plástico deve ficar mais funda no centro, sem tocar nas paredes do buraco, para que o ponto mais baixo fique directamente acima do receptáculo. Coloque uma só pedra no meio do plástico como peso. Esta destilação solar funciona ao apanhar a condensação entre o solo e o plástico à medida que o sol aquece o solo durante o dia. O vapor de água condensa na parte de baixo do plástico, escorre para o ponto mais baixo (definido por uma única pedra no cimo) e depois escorre para o contentor. Adequadamente construído – lembre-se de prender bem as extremidades da folha de plástico para que a água não se evapore para o exterior – a destilação solar pode resultar em cerca de um litro de água por dia. Isto não é o suficiente para o manter vivo, mas combinado com outros métodos (ou utilizando várias destilações solares) pode ser uma parte vital das suas reservas de água.
Um saco de transpiração funciona com o mesmo princípio, mas neste caso extrai vapor de água de plantas em vez de ser do solo. Ate um saco de plástico à volta de uma secção de vegetação verde e saudável, tendo cuidado para que as extremidades do saco não fiquem comprimidas contra as folhas. Novamente, quando o sol aquece o saco e o seu conteúdo, o vapor de água forma-se nas partes laterais do saco e escorre para o ponto mais baixo, normalmente um canto. Depois é só recolher a água para beber A mesma técnica pode ser usada em vegetação que tenha sido cortada de uma árvore ou planta. Coloque a vegetação no saco, mas deixe-a numa camada de pedras para evitar que a vegetação toque no solo onde está o saco. Impeça o “telhado” do saco de fazer o mesmo puxando-o para cima com um rebento com uma pedra (a pedra não absorve a água) entre a ponta do pau e o saco.
Utilizando estes métodos, o soldado pode suprir grande parte, se não mesmo todas, as necessidades de ingestão de líquidos. Quando esta ingestão é suficiente, então o soldado pode começar a preocupar-se com o alimento.
Fonte: McNab, Chris. SAS - Forças Especiais. Curso de admissão. Lisboa: Editorial Estampa, 2002, pp. 135-138
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