O Treino de Sobrevivência em Combate foi concebido para dar aos soldados SAS a auto-suficiência total, independentemente do terreno. Das montanhas repletas de neve da Gales do Sul às selvas sufocantes do Brunei, o TSC ensina o recruta SAS a alimentar-se à base do que colhe da terra e a permanecer vivo sem receber alimentos.
A maior parte do conteúdo do Treino de Continuação é de instrução e teoria e não aborda as práticas fisicamente exigentes da Selecção. No entanto, existe um aspecto no TC, por vezes controverso, que coloca o recruta do SAS sob extrema pressão física e mental. Isso é chamado o Treino de Sobrevivência em Combate (TSC).
O TSC foi concebido com várias intenções. Primeiro, dá aos recrutas ensinamentos básicos para viver da terra se tiver de o fazer. Os soldados do SAS operam longe dos recursos logísticos, e é muito fácil para eles ficarem sem alimento e água se uma missão se estender para além do que estava estipulado ou correr mal. Deixados expostos ao clima e sem subsistência, eles têm de conseguir manter-se vivos e saudáveis pelos seus próprios meios. Segundo, a parte do curso de fuga e evasão concentra-se na forma como evitar o cativeiro, se evadir e como também resistir ao interrogatório em cativeiro. Todos estes elementos são vitais, uma vez que os soldados das Forças Especiais constituem um alvo extremamente desejável para o inimigo capturar e, porque eles operam longe das forças convencionais, é improvável que se possam fazer passar por outra pessoa. Além disso, o inimigo sabe que os soldados possuem informação militar genuinamente útil. Eles frequentemente tentam extrair este tipo de informação por meios violentos, como a tortura física ou psicológica. O treino de interrogatório ensina algumas capacidades para resistir e fugir às técnicas do interrogador. Talvez o mais importante seja permitir ao pessoal da Joint Services Interrogation Unit avaliar se o soldado possui a dureza mental para lidar com alguns dos piores excessos do interrogatório. O TSC, essencialmente, é separado em três secções e em três locais. A primeira parte é dada em Hereford, e apresenta aos recrutas os princípios fundamentais da sobrevivência. Estes são instruídos sobre os princípios básicos de como encontrar alimento e água, fazer abrigos e fogo e também como realizar tudo isto e continuar incógnito. A segunda parte é o Treino na Selva. Este realiza-se duas vezes por ano (normalmente começa em Março e em Setembro) na Escola do Exército Britânico de Treino na Selva, no Brunei. No total o curso dura cerca de seis semanas, dando aos recrutas uma boa ideia de como viver e lutar na selva mais densa.
A terceira parte do TSC é conduzida novamente no Reino Unido, em Exmoor e noutros locais. Este é o controverso curso de fuga e evasão. Os recrutas aprendem a evadir-se do cativeiro muito para trás das linhas inimigas. No entanto, a parte da fuga e evasão que levanta mais controvérsia é o treino de resistência ao interrogatório. Este é conduzido por pessoal da Joint Services Interrogation Unit, que se especializa em colocar homens e mulheres passíveis de ser capturados em cenários de interrogatório extremamente realistas e até mesmo brutais. Se em qualquer fase o recruta parece que não vai resistir e que pode dar informações essenciais, será eliminado como se estivesse na primeira semana da Selecção.
Estes três elementos diferentes do TSC podem não aparecer nesta mesma ordem em cada curso, mas juntos darão ao recruta SAS uma boa base necessária para sobreviver nos ambientes militares e naturais mais hostis do mundo.
Treino de Sobrevivência
Como o curso de sobrevivência na selva constitui uma parte distinta do Treino de Sobrevivência em Combate, vamos tratá-lo separadamente. Primeiro, veremos as capacidades de sobrevivência que os recrutas aprendem no Reino Unido. O treino de sobrevivência é um longo processo dentro do SAS. As exigências de terrenos como desertos e paisagens polares são bastante diferentes das que o soldado enfrenta num clima temperado como o do Reino Unido. Assim, mesmo depois de o recruta ter passado o TSC e se ter tornado membro do SAS, receberá treino de sobrevivência relevante para as suas possíveis áreas de operação.
No entanto, o treino de sobrevivência no Reino Unido abrange os princípios fundamentais de sobrevivência que podem ser aplicados na maioria das zonas do mundo. Estes princípios são os seguintes:
Alimento
O recruta tem de ser capaz de viver dos recursos da terra, das plantas e dos animais. Na realidade, isto significa saber identificar as plantas comestíveis e as venenosas, saber apanhar, matar e preparar animais para cozinhar, métodos gerais de cozinha de sobrevivência e diferentes formas de armazenar alimentos.
Água
Embora os seres humanos possam sobreviver nas circunstâncias correctas por mais de uma semana sem comer, se forem privados de água terão sorte em sobreviver alguns dias. Encontrar água é, consequentemente, uma das capacidades mais importantes ensinadas ao recruta no TSC. Eles têm de ser capazes de encontrar fontes naturais de água, extrair água do chão ou do ar através de meios artificiais, compreender os princípios de uma ingestão equilibrada de alimento e de água e saber quais as plantas que contêm água.
Abrigo
Qualquer que seja o clima, um abrigo é vital. Um abrigo pode ser qualquer coisa, desde a cobertura de uma árvore a uma sofisticada construção com ramos e cordel, mas deve proteger o ocupante e o seu equipamento das condições do clima. Durante o Treino de Sobrevivência em Combate, o recruta aprende a construir um abrigo básico com materiais naturais, a escolher um local apropriado para o abrigo, a adaptá-lo a condições de humidade ou de seca, e a torná-lo habitável e adequado para cozinhar.
Fogo
O fogo é um elemento precioso de sobrevivência. Permite cozinhar, dá calor directo e luz, nos climas quentes o fumo pode ajudar a manter os insectos afastados e também pode subir o moral. No entanto, os soldados de elite devem ser cuidadosos quando fazem fogueiras porque constituem uma pista para o inimigo. No TSC é dito ao recruta onde e quando não deve fazer uma fogueira e, mais importante, como fazer uma fogueira sem fósforos e sem isqueiro.
Tomando cada um destes elementos em conta, vamos ver as técnicas mais importantes que um recruta deve aprender durante o TSC. Em todas as alturas o recruta deve lembrar-se de que mais tarde, durante o treino de sobrevivência, será deixado no campo, apenas com a roupa que traz vestida, durante vários dias. Com antecedência, as suas roupas e corpo são inspeccionados, para ver se tem algo que o possa ajudar a sobreviver – como um canivete ou uma caixa de fósforos – e estes são confiscados. Nada lhe deve dar uma vantagem injusta. A sua capacidade para sobreviver no período de isolamento está directamente relacionada com o que aprendeu durante as semanas anteriores. Se ele tiver de ser salvo, ou não tiver êxito, será eliminado.
Encontrar fontes de água
Seguem-se alguns bons indicadores, mesmo em regiões desérticas, de locais onde pode encontrar água:
- Muitos insectos, especialmente abelhas e formigas, podem indicar que uma fonte de água está perto (quer à superfície quer debaixo do solo).
- Vegetação fresca que cresce numa paisagem predominantemente seca pode significar que existe água por baixo da superfície. Este efeito é frequentemente visto em leitos de rios secos, especialmente nas curvas, onde a água da superfície é a última a escassear.
- Os pássaros normalmente bebem água de madrugada e ao anoitecer. Se um pássaro já se alimentou, costuma voar curtas distâncias antes de descansar numa árvore ou noutro poleiro. Assim, descubra de onde ele veio ou para onde vai, mas tenha cuidado porque os pássaros podem voar grandes distâncias até chegar à água.
- Como os pássaros, os animais de pasto tendem a viajar para a água de madrugada e ao anoitecer. Este sinal pode ser útil nas regiões africanas onde existem padrões claros de vestígios de animais. Caso contrário, procure pegadas de animais.
- Rochas com a superfície húmida podem indicar que existe uma nascente por baixo. Isto acontece particularmente com a pedra calcária e as rochas de lava.
- Nas zonas costeiras, experimente escavar acima da marca mais alta da água – a água fresca é normalmente filtrada pela areia e flutua no topo da água salgada.
Fonte: McNab, Chris. SAS - Forças Especiais. Curso de admissão. Lisboa: Editorial Estampa, 2002, pp. 131-134
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